"E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações." (Atos 2:42)
A igreja primitiva nos deixou um modelo puro e poderoso de comunhão. Eles não se reuniam apenas por obrigação, mas por amor. Havia zelo pelos ensinamentos de Cristo, partilha de vida, preocupação com o próximo e oração constante. Era um corpo vivo, e cada membro era valorizado. Mas quando olhamos para grande parte da igreja atual, percebemos um afastamento desse padrão.
Hoje, vemos lideranças mais preocupadas com a aparência do que com a essência. Há cobrança pela presença, vigilância em cima de compromissos, exigência de resultados e pouca misericórdia com os que fraquejam. Quem não se enquadra nas expectativas humanas muitas vezes é excluído ou esquecido. Em vez de cuidado pastoral, vemos uma gestão de desempenho espiritual, onde os “melhores” são exaltados e os mais frágeis abandonados à própria sorte.
Na igreja primitiva, todos tinham valor. “E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. Vendiam suas propriedades e bens, e os repartiam por todos, segundo a necessidade de cada um.” (Atos 2:44-45). Hoje, há favoritismos, investimentos seletivos em protegidos da liderança, e uma administração que muitas vezes rejeita o modelo ensinado por Cristo, favorecendo estruturas humanas e interesses particulares.
Jesus, ao confrontar os fariseus, expôs esse tipo de religiosidade falsa: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois limpais o exterior do copo e do prato, mas o interior está cheio de rapina e intemperança.” (Mateus 23:25). A aparência não substitui a verdade do coração. Mas infelizmente, há líderes que, como os fariseus, promovem uma fé superficial e excludente. Esquecem que Jesus chamou os cansados e oprimidos: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.” (Mateus 11:28).
O apóstolo Paulo nos lembra que todos os membros do corpo de Cristo são necessários: “Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos. [...] Os membros do corpo que parecem ser mais fracos são necessários.” (1 Coríntios 12:14,22). Mas o que vemos em muitos lugares? Apenas os “fortes” são destacados, enquanto os demais se sentem invisíveis. Tiago também denuncia esse espírito de acepção: “Se, porém, fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado.” (Tiago 2:9).
Jesus, ao lavar os pés dos discípulos, até os de Judas, nos deu um modelo claro de liderança: “Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros.” (João 13:14). Liderar é servir. É amar até os que nos decepcionam. A parábola do Bom Samaritano (Lucas 10) nos mostra que o verdadeiro servo não passa direto, mas se envolve com a dor do outro. “Vai, e faze da mesma maneira.” (Lucas 10:37).
O que falta hoje é esse amor prático. Faltam líderes que abracem os feridos, igrejas que sejam casas de restauração e não tribunais. Falta comunhão verdadeira, onde um olha para o outro com compaixão, e não com cobrança. O Espírito Santo não se manifesta onde há aparência sem essência, controle sem amor, poder sem humildade.
É tempo de voltarmos à essência. À doutrina dos apóstolos. À comunhão com sinceridade. Ao partir do pão com significado. À oração que une corações. Ao evangelho simples e puro de Jesus. É tempo de ser igreja como no princípio. “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros.” (João 13:35)
Voltemos a Cristo. Voltemos à comunhão. Voltemos à verdade.
Marcos Benedito é presbítero e membro da Igreja Evangélica Missão Pentecostal Chama Viva.
É cantor, compositor, instrumentista e produtor musical.
É o criador do STUDIOTECA PG, exercendo também a atividade de influenciador digital através da Rede Gospel Oficial.
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