O NARCISISMO ESPIRITUAL: QUANDO O EGO TOMA O LUGAR DE DEUS - POR: PRESBITERO MARCOS BENEDITO - 16,/07/2025
Na caminhada cristã, encontramos muitos desafios externos, mas também perigos internos — disfarçados de zelo, liderança e até espiritualidade. Um deles é o espírito de narcisismo religioso, onde a pessoa não deseja glorificar a Deus, mas a si mesma. Ela quer estar no centro de tudo, como se tudo dependesse dela, como se ela fosse a autora da obra e não Deus.
O Narcisista Quer Ser o Centro
O narcisista espiritual tem como meta ser o destaque. Ele quer ser visto como aquele por quem Deus fala, por quem Deus age e por quem tudo acontece. Ele até aceita que outros façam parte, mas somente sob a condição de que ninguém o ultrapasse. Assim como Lúcifer, que, ao invés de adorar a Deus, quis ser adorado como Deus, o narcisista quer subir aos céus, colocar seu trono acima das estrelas e ser semelhante ao Altíssimo (Isaías 14:13-14).
"Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono... serei semelhante ao Altíssimo." (Isaías 14:13-14)
Esse espírito narcisista cria limites. A obra não vai além do que ele pode controlar. E quando alguém surge com um dom maior, com uma visão mais clara, com algo que glorifique a Deus de forma mais intensa, o narcisista interrompe. Ele cancela, muda, troca pessoas, sabota. Tudo porque aquilo ameaça a sua “supremacia”.
Exemplos Bíblicos
1. Saul e Davi
O exemplo mais claro é o do rei Saul. Quando Davi começou a se destacar, matando Golias, ganhando o favor do povo e glorificando o nome de Deus, Saul se incomodou:
“E as mulheres dançavam e cantavam: ‘Saul matou seus milhares, mas Davi, seus dezenas de milhares’.” (1 Samuel 18:7)
A partir dali, Saul passou a perseguir Davi. Mesmo sabendo que Deus havia ungido Davi, Saul tentou impedir a todo custo o avanço do plano divino. Saul queria que o trono fosse sempre dele e da sua casa, e não aceitava que a unção tivesse passado para outro.
2. Os fariseus e Jesus
Outro exemplo é o dos líderes religiosos da época de Jesus. Eles se incomodavam porque as multidões iam até Ele, ouviam Suas palavras, viam os milagres, e diziam: “Nunca alguém falou como esse homem”. (João 7:46). O que fizeram os fariseus? Tentaram matar Jesus.
“Desde aquele dia, resolveram matá-lo.” (João 11:53)
Por quê? Porque Jesus ultrapassava os limites que eles haviam estabelecido como donos da fé. Eles não suportavam que alguém fora do “sistema” deles operasse com autoridade divina.
A Igreja Não É Lugar de Egocentrismo
A igreja é o corpo de Cristo (1 Coríntios 12:12). Cada um tem sua função, seus dons e seu papel. O Espírito Santo distribui os dons como quer (1 Coríntios 12:11). Quando alguém quer centralizar tudo em si, impedindo que outros cresçam, preguem, louvem, ministrem, estejam à frente, ele está resistindo à multiforme graça de Deus (1 Pedro 4:10).
“Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil.” (1 Coríntios 12:7)
Deus Não Divide Sua Glória
Deus abate os soberbos e exalta os humildes. Quem tenta tomar para si a glória que pertence a Deus está em grave risco espiritual. Herodes, em Atos 12:21-23, morreu por aceitar ser adorado como deus:
"No mesmo instante, um anjo do Senhor o feriu, porque não deu glória a Deus; e, comido de vermes, expirou." (Atos 12:23)
A Obra é de Deus, Não de Homens
Se a obra for do homem, ela terá limites. Mas se for de Deus, não haverá limites. Quem quer controlar tudo está impedindo que Deus aja com liberdade. O narcisismo precisa ser tratado com arrependimento, quebrantamento e consciência de que somos apenas vasos:
“Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós.” (2 Coríntios 4:7)
Deus não precisa de estrelas, precisa de servos. Não precisa de vaidades, precisa de corações quebrantados. A obra dEle não depende de um homem, mas do Espírito Santo. Que jamais tentemos colocar limites onde Deus quer operar. E que nunca desejemos o lugar de Deus, pois o altar pertence somente a Ele.
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